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Especial: Dia dos Namorados
Em entrevista a psicóloga Fabíola de Paula Garcia explica sobre relacionamentos
Comemoramos aqui no Brasil neste dia 12 de junho o “Dia dos Namorados”. Data escolhida por ser véspera do dia de Santo Antônio, o “Santo Casamenteiro”. O Dia dos Namorados é a data na qual muitos casais demonstram o amor através da troca de presentes, levando o 12 de junho a ser considerado uma das melhores épocas para o comércio. Para comemorar a data, a psicóloga Fabíola de Paula Garcia que é professora da Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro), e tem especialização em Psicoterapia Sistêmica Familiar, fala em entrevista sobre relacionamentos.
- Por que amar faz bem?
Fabíola: O amor vem desde a nossa própria existência, porque ela já se dá através de uma relação que foi de afeto, carinho. Desde bebês nós precisamos nos sentir amados. Por isso que a pessoa tem crise de auto-estima, tudo isso está relacionado a questão do amor. Ele é a base da nossa existência. Para mim existir, preciso me sentir amado. O amor tem várias definições: no Dia dos Namorados nós falamos do amor Eros, que é aquele amor erótico; o Phileo é o amor de irmão e o Ágape é o amor universal, ao próximo. Esses três pilares do amor são essenciais, a ausência de um deles vai trazer um mal-estar. Então para que a pessoa se sinta bem, ela precisa primeiro estar se amando, e ela só vai se amar porque ela foi amada pelos pais ou por alguém. Já o amor de um relacionamento faz bem para a pele, para o cabelo, para a auto-estima, enfim, para a existência. O amor contribui em todos os sentidos, parece ser um amor romântico, mas é um amor que é biológico, que vai alterar em todo o comportamento do corpo, dos sonhos, das emoções. Ele dá uma renovada na vida da pessoa.
- Por que as pessoas sentem necessidade de dividir a sua vida com outra?
F: Nenhuma pessoa foi feita para estar só. Atualmente muitas pessoas, geralmente os bem-sucedidos, não tem alguém para dividir a mesma casa, muitos não querem casar, não querem ter comprometimento. Mas, procuram alguém mesmo que seja a distância, ou buscam ter um relacionamento com alguém, pois essa necessidade vem primeiro do biológico e do ser. O ser humano não nasceu para ser só, ninguém vive como uma ilha isolada. Somos feitos para se relacionar com pessoas. Então isso é natural, buscar alguém, ter alguém, está na nossa essência independente da opção sexual, porque hoje as pessoas optam por quem ir buscar e sempre querem um companheiro para dividir sua vida.
- Nos relacionamentos homossexuais existe alguma diferença dos relacionamentos “padrão”?
F: Existem algumas diferenças biológicas e a questão cultural que interfere bastante. Alguns ainda tem que esconder o sentimento, então, existe sim inicialmente uma barreira, uma diferença. No relacionamento, além da questão cultural, tem a família que não aceita devido as dificuldades dessa aceitação e do preconceito, pois também tem a questão que foi instituída, da constituição homem e mulher. Os estudos mostram que hoje é difícil pessoas com mais idade, que desde o namoro quando escolheram seu cônjuge do mesmo sexo, vivam até o final da vida com essa pessoa. O que acontece na questão do homossexualismo é uma rotatividade de parceiros.
- Por que amigos podem vir a se tornarem namorados? O que leva a despertar esse amor?
F: Existem afinidades que muitas vezes nós não percebemos. Durante um período da nossa vida vamos desenvolvendo e mudando, abrindo os olhos e vendo com outros enfoques. Aí muitas vezes aquilo que você não percebeu no teu amigo, de repente vem aquele estalo (insight), e a pessoa percebe que algo a atrai. Algo que lá como amigo de infância, por exemplo, não tinha, mas já existia o prazer de estar junto e uma boa comunicação. Porque dentro do relacionamento existe amizade, e o que vai restar numa relação com o tempo, quando os dois estiverem com 80, 90 anos é a amizade. Então o que desperta são os insights, e a partir daí a pessoa investe, o que pode acontecer é investir na relação, não dar certo e perder o amigo. Isso é o que acontece algumas vezes, porque a pessoa confunde o amor de amigo com o amor Ágape e muitas vezes não existe a química. Mas também muitas vezes, os amigos se unem e o amor Eros de atração, o físico, ocorre junto com o amor da convivência, do relacionamento e dá certo.
- Relembrar do passado (os (as) ex) pode atrapalhar o relacionamento com o atual companheiro?
F: Dentro do namoro contar da sua história faz parte. Você conta sua história uma vez e a pessoa já sabe. Falar essa história é extremamente saudável, mas não precisa contar em detalhes. Mas, a questão maior é quando você já está se relacionando há um ou dois anos com esse atual companheiro e relembra e compara ao outro, isso vai interferir. Comparações podem existir, mas internamente, falar para o companheiro com relação a isso vai atrapalhar sim. No começo do relacio-namento tudo bem, se for um homem ou uma mulher bem resolvida vai ouvir e levar na boa, mas se isso for se repetindo, vai começar a haver um distanciamento, uma interferência na relação. É como se existisse um terceiro, não sendo mais um relacionamento a dois.
- Mulheres independentes podem afastar os homens? Eles ficam mais receosos de chegar perto delas?
F: Atualmente muitas mulheres tem afastado os homens nesse sentido, eles se assustam. Homens que tem baixa auto-estima não chegam nessas mulheres. Elas podem ser bem-sucedidas, lindas e maravilhosas, eles olham e falam: ‘aquela lá é muito para mim, não vou suportar’. Isso é uma coisa inconsciente deles, mas ficam receosos de um não. Normalmente quem conquista essas mulheres, são homens que tem auto-estima boa e é uma pessoa bem resolvida que enfrenta e que consegue chegar perante essas mulheres. Porque realmente elas passam uma imagem de soberanas, independentes e que não precisam do companheiro. E o homem ainda quer ser o cuidador, isso é da natureza dele. Não precisa ser o cuidador financeiro, mas o cuidador emocional, de estar junto, de dividir, de trocar, de compartilhar e quando vê essas mulheres superpoderosas, pensam que elas não querem ser cuidadas. Essa é a impressão que passam, mas todas querem ser cuidadas. Por passar essa impressão de superpoderosa então só chegam perto dela os heróis, os que realmente tem uma boa estrutura emocional para enfrentá-las sem medo de ouvir um não. A mulher, por trás dessa super-independência é frágil, é uma menina dentro de uma armadura. Mas muitos homens tem medo sim.
- O que não pode faltar num relacionamento?
F: Dentro do namoro existe a paixão, que é aquela coisa química. Durante dois anos a pessoa vê o outro como se fosse o “príncipe encantado”, e se relaciona com o outro por aquela química. E é dentro do relacionamento que o amor é construído. As pessoas acham que o amor vem pronto e não, o amor é uma construção. Amar é ver a imperfeição do outro e amar essa imperfeição, aceitar essa imperfeição. O que é essencial numa relação é o respeito pelo companheiro. Num casamento por mais que exista amor, se não existir respeito, acabou a relação, se quebra a base. Tem que ter respeito por essa pessoa, pela pessoa dela, pela auto-estima dela, pelo cuidado dela. Essa é a base essencial. E também tem que ter paciência, perseverança, tentar enxergar pelo outro e a comunicação. Respeito e diálogo são a base. Muitos casais rompem se amando, mas porque não conseguem se comunicar, são dois mundos, como se fossem duas línguas. Ou eles não se comunicam, ou se comunicam através do corpo e o outro não percebe. Os homens não tem essa percepção, eles precisam ouvir nitidamente para poderem compreender, as mulheres tem a percepção um pouco mais aguçada. Muitas mulheres acham que eles tem bola de cristal para adivinhar o que elas querem, como querem. Então é importante falar, comunicar de uma forma clara. Mas a base é o respeito e a comunicação, o amor é uma construção.
Na próxima edição a entrevista com a psicóloga continua!
Especial Relacionamentos
- Até que ponto o ciúme é saudável dentro do relacionamento?
Fabíola: A palavra ciúmes vai existir sempre com a presença de um terceiro na relação, e que normalmente é fantasiosa. Esse ciúme pode estar relacionado com qualquer pessoa, pode ser ciúmes da sogra, do sogro, do vizinho, do futebol. Não precisa necessariamente ser pessoa, até o tempo e a atenção geram esse sentimento. O ciúme que está num linear saudável é aquele controlável. “Já que eu amo, quero estar próximo, então sinto um pontinha de ciúmes”, isso é saudável. O problema maior é quando ele se torna uma obsessão na vida da pessoa e sempre tem um terceiro. A todo momento na cabeça dessa pessoa existe esse terceiro, tornando-se assim uma questão doentia. Usa-se o cônjuge como objeto, como posse “é meu e eu não posso compartilhar com ninguém”. Nessa relação de posse o amor nem entra, é um sentimento de obsessão. Existem doenças nesse sentido, pessoas que matam por ciúmes, o ciúme patológico. Mas aquele que sente uma pontinha de ciúme quando está na rua e tem uma terceira que olha, isso é uma questão humana natural, porque a pessoa tem o outro como seu, mas não como posse, “meu com quem eu compartilho, divido a minha vida”.
- Como a pessoa pode saber quando o ciúme está prejudicando a ponto de levar ao fim do relacionamento?
F: Muitas pessoas vão às clínicas com esse ciúme excessivo e quem denuncia é o outro, o companheiro. Ele vai denunciar porque não suporta mais, a crise está intensa porque sente-se sufocado. Então a pessoa que está com esse ciúme não percebe, principalmente quando ele é patológico, só vai dar conta quando o companheiro já está para romper a relação. Ou, começa a desrespeitar o companheiro e começam as brigas, discussões e as crises, então tem que procurar ajuda. Quem sente ciúme tem um sofrimento triplicado em relação a um relacionamento normal, a dor é muito grande e intensa. Isso acontece quando não existe o amor próprio, quando a pessoa não se ama, ou ela acha que ela não é suficiente para esse companheiro, realmente tem insegurança. Mas também depende do companheiro passar essa segurança, existem esses dois lados, o ciúme real, em que o companheiro realmente não traz segurança, e a pessoa que sente ciúme por ser insegura por natureza. No primeiro caso, a pessoa até tem confiança em si e sabe do seu potencial, mas esse companheiro traz desconfiança na relação, começando a gerar o ciúme. Então pode ser o ciúme interno ou gerado pelo outro.
- Traumas de relações passadas podem atrapalhar o atual relacionamento?
F: Fiz uma pesquisa na faculdade em relação ao medo de amar após dificuldades amorosas, ou seja, após traumas emocionais amorosos em relacionamentos difíceis. Toda relação deixa marcas, e algumas pessoas tem medo de passar novamente por tudo o que passaram, as dores, os atritos, e muitos se fecham e não conseguem mais amar, tem medo mesmo. Tornam-se superficiais, não se entregam mais completamente. Vivem uma relação superficial, onde não sentem tanto amor, mas também não sentem dor, porque onde tem amor tem dor, o amor está em conjunto com a dor. Assim, muitas pessoas se fecham e deixam de se relacionar ou deixar de amar mesmo. Muitos hoje vivem nessa condição superficial. O casal está junto, mas não tem aquela intimidade da relação por esse medo, as vezes muitos vão ter que trabalhar isso em terapia. Porém, se tiver bem assim, essa pessoa vai viver a vida toda dessa maneira. Agora, se tiver atrapalhando a relação, ou a pessoa quer ter alguém e não consegue porque está travada, ela vai procurar ajuda para tentar sanar todo esse sofrimento, todas essas mágoas.
- Um novo amor pode apagar um antigo amor?
F: Depende. O amor é tão subjetivo. As lembranças vão ficar armazenadas, elas não se apagam, sempre vão existir. Nunca vai ter um amor igual em nenhum relacionamento, sempre vão existir níveis diferentes de amor. Em uma relação o amor é mais intenso, em outra, mais calmo. Um novo relacionamento vai trazer um novo sentimento, mas, não vai apagar aquele antigo sentimento, porque foi diferente, o que foi vivido com uma pessoa não vai se viver igualmente com outra. Essa coisa de apagar não acontece, mas pode deixar o sentimento guardado, armazenar as lembranças e ter um novo sentimento por essa pessoa. Porém, aquela coisa de um amor superar o outro sim, de superar a dor, porque se a pessoa sofria não vai mais sofrer, vai lembrar da relação do passado com carinho, não se tem aquela sensação intensa do passado, ela diminui.
- Até que ponto é verdadeira a sentença de que os opostos se atraem?
F: É a mesma coisa que dizer “a metade da minha laranja”, “a tampa da minha panela”, essas expressões são muito pequenas, como se as pessoas se encaixassem perfeitamente. Nunca ninguém encontrou alguém que se encaixe perfeitamente, a ponto de falar “eu sou o oposto e nós nos completamos”. A relação é uma construção que vai se ajustando com as diferenças, não existe uma relação completa, onde um completa o outro perfeitamente, isso é uma utopia. O que existe são ajustes, a comunicação, a adaptação, como se fosse um quebra-cabeça. Dois quebra-cabeças diferentes que se encontram e vão ter que se encaixar, vão ter que construir um novo quebra-cabeça. Então esse novo quebra-cabeça não vai ser de um oposto com outro, eles vão ter semelhanças que vão ajudar o ajuste. Se for extremamente diferente, por exemplo, pessoas com crenças opostas, um ateu com um religioso, vai ter uma afinidade química, mas espiritual e mental é impossível, não vai ter a sintonia. Vai chegar num ponto que essa falta de sintonia vai acabar com a relação. Então é interessante ter alguém que seja o mais próximo do que eu penso, do que eu creio, para não haver tanto atrito. Agora o oposto vai ter um maior atrito ainda, então não é totalmente verdadeira essa questão dos opostos, é quase que um mito.
- Se o sexo não é bom, a relação pode estar comprometida?
F: Eu diria que vai atrapalhar em dois sentidos: quando o sexo não está bom mesmo quando a relação está boa, e mesmo quando o relacionamento é terrível e o sexo bom. Nesses dois aspectos vai acabar atrapalhando. Eu posso ter uma vida sexual maravilhosa, mas é um inferno durante o dia, então vou ficar com problemas, querer me separar, não vou estar bem. Da mesma forma, estar vivendo tranquilamente e o sexo não estar bom. O ser humano vai buscar outro, é da natureza humana querer algo melhor. Se a mulher tiver “ganhos secundários” como chamamos, se ela está tranquila, não está emocionalmente abatida, não está sendo agredida, não tem traumas, tem uma vida estabilizada, isso para ela é mais tranquilo, mesmo que o sexo não seja tão bom. Só se ela tiver uma libido muito elevada pode querer procurar outros parceiros. Também, o que pode acontecer é ela ter sonhos com outras experiências, mas não colocar em ação, fica aquela coisa armazenada. Mas com o homem se a sexualidade não vai bem, ele tende a procurar outra pessoa, a relação fica aberta a entrada de outra pessoa. Em qualquer aspecto se uma relação está em crise é uma porta aberta para um terceiro, pode ser que nenhum vá atrás, mas se aparecer pode ser que entre nesse momento de crise.
- Como os namorados podem saber qual é a hora certa de “casar”?
F: Biologicamente isso tem um tempo certo sim. A paixão fica no corpo por um período de dois anos, então o ideal para casar é quando o relacionamento tem de um ano e meio a dois anos, porque já houve um amadurecimento do casal. Agora quando as pessoas acabaram de se conhecer e se casam é por impulso, pois não se conhecem. Em média biológica falando de paixão uns dois anos, porque até lá se sobreviveu a relação, se tudo está bem, o amor perseverou. Nessa fase é quando se descobre os defeitos, como aquele nariz torto que apareceu só depois dos dois anos, e você ama e aceita esse nariz torto mesmo. Pessoas que vivem muitos anos namorando e quando casam dá errado acontece bastante porque se prolongou e não houve um comprometimento, um sentimento mais profundo.
O casamento será o tema da entrevista na próxima edição!